sexta-feira, 18 de março de 2011

Cinemar, (de)compor, escreviver: calidoscópios juvenis em perspectiva

Por Fábio Leonardo C. B. Brito

Leituras, leituras... a sina de um jovem e recém-mestrando, no intermezzo crucial de sua vida. As mudanças se apresentam, se concretizam, e a única saída é acompanhá-las, sob a pena de perder o bonde. Mas tudo a seu tempo. Enquanto isso, só resta esperar. E há formas melhores de esperar do que acompanhado de boas leituras? Pois é. E poucas leituras reuniriam mais os gostos do blogueiro que ora vos fala do que "História, Cinema e outras imagens juvenis", uma compilação de artigos reunidos pelo Prof. Dr. Edwar Castelo Branco, líder do grupo de pesquisa "História, Cultura e Subjetividade" no CNPq.

O livro reúne o resultado de pesquisas que versam sobre os mais diversos temas, que convergem nos interesses da juventude brasileira em diversas épocas, em especial nos anos 60/70. Abrange textos referentes à produção cinematográfica em super-8 no Piauí na década de 1960, bem como as temáticas ligadas a tais filmes. O experimentalismo marginal e sua relação conflituosa com os modelos comercialmente padronizados, bem como suas divergências com o chamado Cinema Novo e seus representantes. Fariam parte de uma mesma estética cinematográfica ou guardariam diferenças suficientes para sua segregação?

A juventude dos anos 60 e 70, dividida entre os pertencentes à sociedade-padrão aceitável, os panfletários marxistas e os anarco-marginais, foge aos estereótipos porventura construídos para ela. É possível encontrar nas letras pernambucanas de Jomard Muniz de Brito uma multiplicidade de estéticas, bem como uma busca constante por uma "revolição" cultural, fundamentada em uma desconstrução dos "monstros sangrados" da arte e da política brasileira.

Se em 1968 as palavras se levantavam em protestos por parte dos estudantes da UNE, o desbunde era resultado de um processo sócio-histórico de transformação cultural do país. Teresina entrava em um circuito cultural que, no fim do século, ajudaria a configurar tal cenário. O cinema chegava, visto por muitos intelectuais da época como uma "invenção do diabo", trazendo novos costumes, maneiras de ver, vestir, amar as pessoas, sentir o mundo ao redor. Os escritos de Higino Cunha, Elias Martins e Clodoaldo Freitas divergiam quanto às contribuições da sétima arte à formação cotidiana teresinense.

A contracultura se apresenta em imagens, fotografias, conceitos e músicas. A arte musical e o surrealismo no rock de Raul Seixas deixa transparecer o esoterismo presente em sua filosofia hippie, a ideia de liberdade de atitudes, ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, se mostrava moralista em termos sexuais.

Uma amálgama de identidades se construiu em torno das juventudes de todas as épocas. Discursos dissonantes e aventuras culturais, desafiando as visões pragmáticas do homem, este ser complexo, em seu momento biológico mais particular. Um conjunto de imagens que se misturam numa sopa com pedaços de monturos, o vômito dos dogmas, a merda jogada sobre os monumentos. Uma poção mágica desafiadora, que traz a dúvida maravilhosa e revela os segredos do incerto.

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